quarta-feira, 1 de junho de 2011

Assistindo o Rio Fluir


São tempos difíceis para aqueles que estão despertos. Despertos e conscientes da nossa íntima ligação com os processos naturais, nosso lugar no Universo, os processos que regulam nosso corpo, nossa sociedade, os ecossistemas terrestres. São tempos difíceis para aqueles que acreditam em uma vida harmônica com a Natureza, uma vida não dependente de ações degenerativas do meio em que vivemos. Eu vejo as lágrimas de povos milenares que são usurpados de suas terras, eu ouço o ranger das árvores caindo ao toque da pesada corrente, eu sinto os rios sufocarem, como se meu próprio pulmão lutasse em angústia por um pouco de pureza. São tempos difíceis. Meu olhar, por não conseguir suportar a dor da ignorância alheia, tanto daqueles que nos “governam”, quanto daqueles tristemente governados, se volta para o céu. Eu penso no Big Bang, penso na Teoria das Cordas... penso em um Universo que pulsa, penso em trilionésimos de segundos e em bilhões de anos... penso em sub-partículas e na dança das galáxias. E assim, minha consciência evade... Minha própria escala espaço-temporal é por demasiado perturbadora: faço, contra minha própria vontade, parte de um suicídio em massa. Afinal, com todos os dados científicos dos quais dispomos atualmente, que outra conseqüência pode-se esperar da dizimação do que ainda nos resta de florestas, rios, biodiversidade? É uma conta de 2+2 que parece difícil de entrar na cabeça daqueles que tem que se preocupar com seus milhões advindos da agropecuária que avança em solo amazônico, ou daqueles que querem garantir a teta profícua lá em Brasília.



Mas os processos naturais não estão nem aí se fulano quer andar de Learjet. E é assim que eu gosto de admirar o dinamismo da Terra: sob a perspectiva cósmica. E então eu vejo aqueles que votaram a favor do novo Código Florestal e aqueles que liberaram a licença para Belo Monte sendo afogados no rio do Tempo, fagocitados pelas conseqüências ambientais dos seus próprios atos gananciosos e ignorantes. Sem prejudicar em nada nossa linda esfera Azul. Pois, como diria o saudoso George Carlin: “O planeta? O planeta vai bem... as PESSOAS é que estão fudidas!” A Vida existe nesse planeta há mais de 3.5 bilhões de anos. Ela surgiu quando este ainda era uma bola de lava recém resfriada, com uma atmosfera repleta de metano e violentos bombardeios de meteoritos. E nós, quem somos? Uma espécie recente e burra – no máximo. E esse pensamento me acalma. Porque, sinceramente, diante de tanta palhaçada, a única vontade que eu tenho – como diria a letra do Dylan - é a de sentar nesse banco de areia e assistir o rio fluir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário