segunda-feira, 4 de abril de 2011

Catarina e a imutável simbologia da morte

Estou mudando de apartamento. Como em qualquer mudança que já fiz, uma das partes mais interessantes é definir onde vai ficar o toca-discos e quais os quadros, gravuras e pôsteres que irão figurar nas paredes. Música, filosofia, fotografias diversas... foram diversos os símbolos que compartilharam até hoje o mesmo teto que eu. O toca-discos ainda tem lugar cativo na minha imaginação enquanto a mudança não é consumada, mas as simbologias, não mais. Afinal, o que é um símbolo, senão uma interpretação errônea e anacrônica de alguma idéia remota, que existia em um ambiente absurdamente diferente de concepções sociais? É ingenuidade tentar preservar certos valores quando o mundo grita por novas concepções, por dinamismo social. E eu acredito que o mundo clama por menos símbolos.














Os símbolos trazem consigo um conjunto pré-concebido de idéias, um pacote de pré-concepções digeridas em massa, muitas vezes dogmáticas, que levam à inércia cerebral. Levam ao acomodamento. Nossa época é única. Nossas vozes são únicas. As bandeiras e as vozes do passado inspiram, mas não podem balizar por completo nossas atitudes, pois nosso tempo é outro. Não que eu acredite ser possível viver sem símbolos, seria ingênuo do mesmo modo. Até mesmo por que, na minha concepção, o trabalho sinérgico de nossas terminações nervosas, nossa química corporal e nossas reações ao ambiente externo se dão através de símbolos. Indaguei-me então sobre um símbolo especial... a caveira.











Embora a conotação da morte seja muito diferenciada nas variadas culturas, temporal e espacialmente, a figura da caveira nos vem relembrar uma verdade tão simples quanto profunda: a nossa efemeridade. A caveira nos faz enxergar a dureza de nossa fugacidade que se esconde sob a pele macia de nosso ego. A morte que iguala a todos. Inevitável, assustadora, libertadora e admirável morte. Medo e fascínio. Aquela que coloca o contraponto a tudo que acreditamos: nosso ser. Um símbolo que não sofre modificações interpretativas com o decorrer do tempo, pois sobrepuja a todas as sociedades, modos de pensar, de viver, de se experimentar enquanto ser planetário.















Acredito que uma das mais carismáticas personagens da simbologia mexicana para o Dias dos Mortos é Catarina, uma elegante dama da sociedade que serve como lembrete de que as diferenças sociais não fazem diferença na hora da morte. Vestir o paletó de madeira sobrepõe-se a todas as espécies, aos bons, maus, infiéis, fiéis, ateus, poetas, bêbados, santos e criminosos. Felizes ou tristes, ricos ou pobres, de alma ou de bens materiais, todos somos feitos da mesma matriz de matéria e energia, e para ela voltaremos. O simples sorriso de uma caveira vem ironicamente trazer à tona aquilo que a maioria das pessoas quer tentar esquecer: que elas estão vivas, e que essa é uma chance única. É, vai ter uma caveira ao lado do meu toca-discos.






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