terça-feira, 22 de março de 2011

ENTRE O BIZARRO E O NORMAL... APENAS UMA ESCOLHA.

Como afirmar que aquilo em que acreditamos, aquelas verdades que balizam nosso cotidiano desde a hora em que abrimos nossos olhos de manhã, nas quais vivemos todos os dias de nossas vidas, são absolutamente REAIS? Como saber se tudo o que nos foi ensinado desde a mais tenra idade, nossos costumes, crenças, educação formal, modo de vestir, de pensar, de se relacionar, tudo o que experimentamos, julgamos saber, discutimos, toda nossa oblíqua vastidão mental não são de uma bizarrice extrema?

Este parece um exercício mental bobo, mas acredito estar longe disso. Na realidade, é um exercício que mudou completamente meu modo de enxergar diferentes culturas humanas, pois nos coloca frente a frente com a dúvida sobre o que é considerado “normal” e “justificável”. Sempre que penso nisso, a primeira imagem que me vem à cabeça é a de um bigodudo austríaco de cabelo lambido que matou milhões de pessoas na Alemanha, justificando-se por considerá-las inferiores. Vou falar a verdade, esse cara não me assusta. Pessoas loucas, sedentas por poder, existiram aos borbotões em toda a história da humanidade. O que me assusta é a imensa massa de alemães que avalizaram a loucura desse um. Milhões de pessoas compraram o que ele disse, e outros milhões calaram-se por medo de represália. Vendo fotos do enxame de alemães nos comícios de Hitler, um calafrio sobe minha espinha de fora a fora. Para aquelas pessoas, o que ele falava era REAL. Tudoestava dentro no normal, justificável e necessário (para o cidadão que não tivesse o infortúnio de ser judeu naquela época).













A propaganda, o governo, seus amigos e vizinhos, todos concordavam e alastravam o ideal nazista. Como fugir de idéia tão fortemente embutida pela sociedade? Quando penso nisso, e não só nesse trecho de nossa história, mas em tantos outros - como a escravidão e morte dos negros e dos índios, também sob a justificativa da inferioridade destes, ou então dos palestinos, ou de tantos outros povos que são perseguidos e taxados como “lixo” da humanidade geralmente como álibi para guerras em nome do poder e do lucro (desde tempos muito anteriores aos coloniais até a recente corrida armamentícia e petrolífera) - outro pensamento perturbador me invade. O que nós, cidadãos comuns, pertencentes ao nosso mundo REAL (que não consideramos bizarro), à nossa teia de normalidade, que atitudes estamos tomando, que poderiam ser consideradas como atos atrozes pelas gerações futuras?












Para nós, parece ridículo e insano considerar um negro ou um índio como seres inferiores. Nós temos o conhecimento de que somos iguais. Mas, quem são os seres “inferiores” e “sem alma” da vez, que estão sendo usados e abusados cruel e irracionalmente em ode ao deus-mercado? Agora temos os Direitos Humanos que - pelo menos hipoteticamente - deveriam proteger os de nossa espécie. Mas para alguém lucrar rios de dinheiro, alguém tem de ser explorado. Restam os não-humanos. E estes sofrem um holocausto diário: são escravizados, torturados e mortos a cada segundo, em uma seqüência de eventos que lembraria um filme de terror dos mais sanguinolentos, bem além da imaginação daquele que come um nugget com um peruzinho sorridente estampado na caixa. Mas este filme está aqui, estamos vivendo todos os dias neste mundo, compactuando e, através de nosso silêncio, enchendo de sangue nossas mãos, que lavamos com a falácia da “normalidade”. Se continuarmos calados, estaremos nos igualando às pessoas que acreditavam que as mulheres deveriam se submeter à posição de inferioridade e não ter voz em uma sociedade patriarcal, ou então aos cidadãos alemães que denunciavam vizinhos judeus com os quais conviveram anos, sem conflito. Afinal, não há diferença entre o sexismo, o racismo e o especismo. Todos brotam da ignorância e da cegueira voluntária para o fato de que todos os seres da Terra têm direito à Vida e à Liberdade, e de que da violência para com iguais e não-iguais, nunca poderá emergir a verdadeira felicidade.



3 comentários:

  1. Olá Diego, seja bem-vindo. Gratidão pelo comentário e pelos seus posts sobre Belo Monte no Antropologia Simétrica. Um abraço...

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  2. Muito bom mesmo seu blog. Fiquei feliz em ler cada post. É incrível como você aborda as questões sociais, e como nos leva a uma analise de quem somos ou do que realmente queremos. Este su blog deveria ser visto por mais pessoas, para que as mesmas pudessem fazer uma reflexão a respeito da vida que levam. Eu penso que estou ciente a respeito do controle que nos é imposto, e de que a televisão é uma eficiente máquina de manipulação de massas.

    ADRIAO

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